03/02/2008

Souq: The Trilogy. Episode 1

Os três fins-de-semana (leia-se domingos) que passei em Marrocos antes de ir a Portugal para o Natal foram rigorosamente aproveitados para comprar as prendas. Uma coisa que me deixou deveras satisfeita foi o facto de poder juntar os souvenirs (que teria obrigatoriamente de levar a família, amigos e afins) aos presentes de Natal. Ou seja, leve 2 pelo preço de 1. As pechinchas começam aqui.

Contudo, desengane-se quem pensar que cá é tudo barato. Não é bem assim! Apesar de uma viagem de táxi custar entre 10 e 20 dirhams (dirham=euro/10, hence: entre 1 e 2€), um jantar pode custar entre 500 a 1000 dirhams e uma bebida num bar pode custar entre 100 e 300 dirhams (façam as contas! Simãozinho, acho que te passei à frente!)

Felizmente, no Souq, pode-se regatear... e muito!

A primeira incursão foi... nem sei, não tenho palavras para descrever. Muitas coisas para ver, ouvir e.. cheirar logo de uma vez. Para ser franca, nem começou mal porque descobri lojinhas deveras interessantes logo no Ensemble Artisanal. A nota especial vai para os sacos em palhinha forrados a fita! e para a loja das pratas em que, para que lado fosse que me virasse, era ouvir-me exclamar: 'Ahh! Ohhh! Ehhh! Que giro! Que giroooooo!'. Em circunstâncias normais é já difícil escolher, mas com tamanha novidade, com tamanho colírio!, quem lá estava saiu de lá zonza!..

Mais tarde, percebeu-se que, em questões de lojas de pratas, os preços e os modelos não variam mesmo quase nada de uns sítios para os outros, mas que aquela loja do Ensemble tem os mimos mais mimosos...



Ensemble Artisanal (pelo menos a entrada, quem quiser ver tudo e tudo e tudo, venha cá!)


Encetando novamente a caminho do Souq, cheguei rapidamente à conclusão que o ambiente era de tal forma paralelo que era inútil recorrer a fotografias para o poder transmitir. Logo, não podendo dispensar a partilha daquela descoberta com os meus mais que tudo e, sobretudo, com os meus IC11, fiz um filme.





Não há palavras para explicar, não há mímica que chegue, nem o Michael Nyman consegue reproduzir a sensação de chegar, entrar e deambular pelo Souq. À chegada, a não ser que se invente música olfativa (que provavelmente equivaleria a um pujante sopro num trombone!), não se consegue reproduzir o bodum nauseabundo de ter 30 caleches de 2 cavalos à espera de turistas. O princípio de montar um saquinho no veículo para que as necessidades dos cavalinhos não infestem toda a cidade é muito louvável. Mas quando se junta uma trintena deles sem os despejar, é recorrer à apneia e andar ligeirinho para se passar rapidamente à praça Jemaa El-Fna.

Chegadinhos de fresco à praça, é ver vendedores de água que parecem árvores de Natal by Diego Rivera, encantadores de serpentes e de macaquinhos com um batedor de serviço sempre à coca de quem está a tirar photo! photo! para vir cobrar a dízima, de mulheres vestidas de muçulmanas respeitáveis que só mostram os olhinhos, mas que se te agarram a mão não te largam até fazerem uma tatuagem de henna que vale tudo menos os 250dirhams que te exigem por ela, malabaristas, tocadores de castanhetas de latão que também rodam um pompom voador com a cabecinha, trezentos quiosques de venda de sumo de laranja, 15434 turistas de todas as cores e nacionalidades, 3843953 marroquinos com a mesma cor, mas diferentes tonalidades e, ainda, essencialmente o mesmo cheiro, só que mais diluído. É um rodopio!


Entrando no labirinto das ruas (para os mais desorientados, recomenda-se um carrinho de fio de cisal de 1500m), há de tudo! O talho ao lado da sapataria de segunda mão (há quem chame estes produtos vintage), agências imobiliárias que vendem Rolex e outros produtos em legítimo ouro e que prestam, também, serviços de barbearia, casas que oferecem bain pour femmes (agora imaginem a frequência com que estes senhores tomam banho), mil e uma lojas de peles, mil e uma lojas de luminárias de latão, mil e uma lojas de chichas e outros souvenirs, mil e uma lojas de lenços, écharpes e babouchas de Louis Vuitton e Gucci (contrafacção não existe neste país, ASAE fica onde estás!), etc., etc. e tal...

Como é evidente, já vínhamos com a história das pratas fisgada e fomos direitinhas ao souq respectivo. Cedo percebemos que os portugueses são personas non gratas naquele sector. Como boas estrangeiras que somos, pusemos o pé no Souq convencidas que, efectivamente, é tudo baratíssimo, principalmente para quem sabe como regatear (existem técnicas altamente aprimoradas). Ora as pratas são, como constatámos mais tarde, realmente mais baratas que em Portugal, mas não são, mesmo assim, baratas. Ao que parece, o regatear preços é um charme exclusivamente português e os vendedores acertavam finalmente na nossa nacionalidade assim que abriamos a boca para discuti-los. Foi uma tarde a ouvir de 'Portuguesh bancarota' para cima... Diz que ficavam ofendidos com os preços que ofereciam e com o nosso ar indignado pelos preços que pediam... Diz também que gostam muito do Cristiano Ronaldo, mas para infelicidade deles, apesar de bancarrota não fazer parte do cenário dele, não me parece que o bling que ele passeia seja comprado no Souq de Marrakech.

Passeámos ainda por outro departamento do Souq. O das artes de alquimia, perfumaria, magias negras, brancas e nem uma coisa nem outra, e animais domésticos. No meio de cheirar óleos e essencias, experimentar pedras aromatizantes (incluindo uma desodorizante que, a julgar pelo perfume pungente da maior parte dos marroquinos, não é eficaz como Rexona), apreciar as mil e uma cores e texturas de especiarias e ervas, demos connosco a brincar com camaleões bebé.


Pet ideal: não ladra, não arranha e quando nos fartamos damos-lhe um encontrãozinho que ele muda de cor e desaparece

Esqueçam lá isso de pet shops com cachorrinhos, gatinhos, peixinhos e hamsters fofinhos e cheirosinhos. Aqui em Marraquech, queres um pet levas para casa um camaleãozinho, uma tartaruguinha ou outro qualquer animalzinho com garras e olhos diametralmente opostos. Se ultrapassares os 50 dirhams de compras, levas uma cabeça de carneiro embalsamada de oferta.

Antes de acabar o dia, consegui ainda descobrir que, no meio das ruas melindrosas, sujas e escusas do Souq, brotam, aqui e ali, Riads fabulosos. Alguns são casas privadas, outros hotéis ou pousadas, mas todos absolutamente apetitosos. Vou pôr um anúncio pra troca:

Piscina de um hotel no meio do Souq

PS: Além do Simão, estou a conseguir rivalizar com os testamentos da Vera. Infelizmente, com quem quero mesmo rivalizar continua a ser com a Sara. Caca!

PS2: Não há vez nenhuma nenhuma que vá à Jemaa El-Fna sem tirar fotografia ao Minaret de la Koutoubia. Já tenho uma colecção. Neste dia foi esta:



4 comentários:

Simãozinho, o Bife disse...

Seja bem aparecida menina Cristina. Beijocas

nelsinho disse...

Tininha bem aparecida ao mundo web2.0 do contacto. Que bom ter notícias tuas num texto muito muito bom... se tu visses o sorriso que me deixou ler o que tu escreves. Continua please!!!! Beijinhos Nelsinho

Guida disse...

Olá Cris!

Já tinha saudades tuas e de saber as tuas novidades!

Apesar do trabalho percebi que estás a adorar!!
Fico contente!!:):)

Beijos

Jaime Silva disse...

Olá Cristina,

Que grande texto... Li tudo por duas razões, gostei imenso das tuas descrições e sim hoje n estou com mt trabalho.

Continua a divertir e tem paciência com os Marrokanos :P

Beijinhos,


Continua a postar!!!